Do outro lado das teclas

Uma história a quatro mãos, separadas por um mar.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Tempos passados

  • 04/04/2004 - 04/11/2004
  • 04/11/2004 - 04/18/2004
  • 04/18/2004 - 04/25/2004
  • 04/25/2004 - 05/02/2004
  • 05/02/2004 - 05/09/2004
  • 05/09/2004 - 05/16/2004
  • 05/16/2004 - 05/23/2004
  • 05/23/2004 - 05/30/2004
  • 05/30/2004 - 06/06/2004
  • 06/06/2004 - 06/13/2004
  • ------------------------------------------------


    Pousou os artigos essenciais sobre o banco como sempre fazia.
    Mapa, caderninho preto, esferográfica.
    Maço de tabaco no tablier. Ready for action.
    Ah, faltava a máquina fotográfica.
    Uma daquelas descartáveis chegava.
    E o telemóvel. Comprar um chip ou um telefone.

    Agora é que vou saber como são as estradas aqui.
    Ia andando sem norte, melhor dizendo com um rumo nordeste.
    Já tinha passado por Sobradinho. Continuou pela estrada. Planaltina.
    Circulou. Apeou-se.
    Foi pelo café, ouviu os circunstantes.
    Errou pelas ruas, com a máquina no bolso. O que menos queria era ter ar de turista.
    Sempre que andava ao deus-dará, tinha a consciência de que perdia lugares históricos.
    Isso acontecia em Portugal. Haveria de acontecer aqui.
    Nunca fora por folhetos, por propaganda, por motivos culturais. Andava ao sabor das marcas na paisagem. Às vezes, atrás de temporais. Tinha só que ter a noção das horas a que o sol de punha. Aqui mais bruscamente do que lá. A noite não lhe servia de muito para ver coisas e podia colocá-lo dentro de alguma cratera na estrada.
    Rodou de novo, agora para leste. Formosa. Mais uma vista de olhos, os locais parecem-se uns com o outros.
    Meia-volta.
    Contornou Brasília pelo nascente. DF 130.
    Depois por sul. BR 251.
    Horas de almoço.

    Depois de um repasto, não resistiu.
    Pegou no telefone.

    Brincadeira parva. Ela ficou triste e desconsolada.
    Pegou de novo no telefone.
    “Sim? Mas afinal que número é esse? Tem celular?”
    “Claro. Comprei um chip da TIM.”
    “Ah. Mas e o telefone? Tinha um?”
    “Claro. Tenho um telefone que aguenta qualquer chip GSM.”
    “E o que me vai dizer? Que afinal só volta no final da semana?”
    “Que ao cair da noite, estarei arrumando o carro na garagem do prédio. Só isso!”
    “Não vai se mandar? Por essas estradas, no tal do caracoroísmo?”
    “Não. Ficarei lá no apartamento, sairei para jantar só ou acompanhado e voltarei para descansar. Tenho dormido pouco, sabe?”
    “Ah sim? Não me diga!”
    “É. Noites perturbadas. Muito sonho. Pouco descanso.”
    “Sonho? Tem sonhado muito?”
    “Tenho. O que é pior, é o que o sonho parece bem real... fatigante, sabe?”
    “FATIGANTE?”
    “Sim, uma fadiga boa, depois de tanto sonhar acordado... e às vezes até um pesadelo em cima de mim. O pior é que fico querendo mais. Mais sonhos e mais pesadelo...”
    “Ah é? Eu lhe digo que pesadelo. Me aguarde.”
    “Ah, aguardo sim. Ficarei lhe aguardando. Agora você sabe o número. Qualquer coisa me liga. Vou rodar mais um pouco até escurecer.”

      |