Do outro lado das teclas |
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Uma história a quatro mãos, separadas por um mar.
Tempos passados
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------------------------------------------------ Uma cadeira de dentista... O que disseste? Uma cadeira de dentista... é o que me vem à cabeça. Cadeira de dentista? Não estou entendendo... Você me faz lembrar uma cadeira de dentista! O QUÊ? – primeiro foram as duas almofadas, depois murros, depois... bem depois, ela estava debruçada sobre ele agitando o braço direito mais uma vez, sem cuidar do risco que corria, ao se exibir de peito aberto. Larga-me, pára! Mas ele se servia dos frutos desbocadamente. Avidamente, como se a noite tivesse sido apenas um prenúncio de festa. Olha as horas! Cale-se e me beije. Como é? Ainda bebe café comigo? Só se fôr rápido. Tenho que ir pegar os meninos. Claro. Café. Café. Café. Estou na terra do café e não beberia os meus cafés. Ah, mas espera. A máquina. Lembra da máquina? Pois é. Até comprámos café. Então, se arruma que eu vou tratar do cafézinho. Agora me conta, o que é que você queria insinuar com essa coisa de cadeira de dentista? Ah, ah, ah. Não se esqueceu dessa? NÃO! Claro que não. Eu depois lhe conto, é uma longa história. Sei. Teve uma namorada dentista, tá me comparando à cadeira... Qué isso? Ficou boba? Não. É uma história muito diversa. Eu lhe conto esta noite. Ah, já tá garantindo a minha presença? Não. Estou apenas reclamando, mas também sei que essas noites não vão ser sempre assim. Pois é. A vida real. Não sei se é a vida real. Sei que é o tal paradoxo da liberdade. O seu caminho não é livre como o meu. E o meu só é livre enquanto não tiver compromissos... Mas você não é livre. Nem pensa. Nem imagina. Nem sonha. Só pode andar por aí mas nada de frescura, viu? Eh eh. O mosquito à volta da luz. O errante agarrado ao Km 0. Mas há uma coisa que você me poderia dizer. É se esta noite vem ou não... |